Segundo a coordenadora  de programas da Childhood Brasil, Anna Flora Werneck, mesmo depois de duas  décadas da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda há um longo  caminho a percorrer para acabar com o abuso e a exploração infantojuvenil no  País, porque ainda predominam muitos mitos e tabus.
Como começou o seu interesse pela causa  do combate ao abuso e à exploração sexual infantojuvenil?Eu trabalhava com  questões relativas aos direitos humanos há 10 anos, quando me mudei para São  Paulo e tive a oportunidade de ingressar na Childhood Brasil. Pela primeira  vez, recebi o desafio de coordenar programas estratégicos e apoiar projetos de  enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. No começo, é  difícil não se envolver com as histórias duras e tristes das mais distintas  violações de direitos humanos que culminam na violência sexual. A indignação  faz a gente começar a perceber a importância desse trabalho, de falar  constantemente e de diferentes formas sobre o assunto, de não deixá-lo cair no  esquecimento ou debaixo do tapete do tabu e da vergonha. Enfrentar a violência  sexual infantojuvenil pressupõe olhar a criança na perspectiva da proteção  integral e envolver diversos atores para evitar essa violação e também tirá-la  dessa rede perversa.  
Após 20 anos da criação do Estatuto da  Criança e do Adolescente (ECA), qual é o cenário hoje da violência sexual  contra crianças e adolescentes no Brasil?O cenário ainda é  muito alarmante, pois milhares de crianças e adolescentes são vítimas da  exploração sexual a cada ano e os profissionais que atendem a estes casos  muitas vezes não estão capacitados para tanto. Por outro lado, a situação é  mais favorável do que há 20 anos, quando crianças e adolescentes ficavam na  penumbra, sem direitos instituídos e sem nenhuma voz. Por meio do ECA e de  outros instrumentos legais, o movimento de direitos humanos pela infância vem  alcançando melhorias significativas inclusive termos de defesa e  responsabilização. O caminho ainda é longo até que o Estatuto saia efetivamente  do papel, mas hoje temos um marco e um horizonte que não tínhamos há duas  décadas. A violência sexual causa danos muitas vezes irreversíveis à integridade  física, moral e psicológica de crianças e adolescentes, afetando o  desenvolvimento humano e social de nosso País. Ecoa nas organizações e na mídia  o consenso de que esta prática, além de criminosa, é uma gravíssima violação  dos direitos da infância, devendo ser enfrentada de forma imediata, integrada e  contínua.
Quais são hoje os locais mais  problemáticos no que diz respeito à exploração sexual infantojuvenil? Cite  alguns dos projetos realizados pela Childhood Brasil no enfrentamento deste  fenômeno.A exploração sexual  manifesta-se em diferentes localidades e em cada uma delas é importante  observar as variáveis e os atores que podem ajudar no enfrentamento dessa grave  violação de direitos. A Childhood Brasil possui diferentes iniciativas no tema,  a exemplo da parceria com a rede Atlantica Hotels International, que, entre  outras ações, implantou um Código de Conduta e capacita continuamente seus  colaboradores para a prevenção do problema em seus mais de 70 empreendimentos  hoteleiros.
Outro exemplo é o  Programa Na Mão Certa, que mobiliza o setor privado para o enfrentamento da exploração  infantojuvenil nas rodovias brasileiras. As empresas aderem ao Pacto  Empresarial do Programa e capacitam os caminhoneiros de sua frota própria ou  terceirizada como agentes de proteção de crianças e adolescentes nas estradas,  além de abolirem qualquer violação de direitos da infância em suas cadeias  produtivas.
A campanha VIRALIZE, realizada pela  Childhood Brasil, pretende informar a sociedade como primeiro passo para se  trabalhar a questão do abuso sexual na sociedade. Qual é o papel de  educadores, profissionais de saúde e outros atores neste processo, inclusive  cidadão comum?A campanha VIRALIZE se  propõe a levantar a questão do abuso sexual de crianças e adolescentes na sociedade,  provendo-a com informações de qualidade sobre o tema e o devido encaminhamento  dos casos. Ao contrário do que muitos ainda podem pensar, este problema  acontece em todas as classes sociais e de forma mais próxima do que imaginamos.  Os abusadores são, na maioria das vezes, familiares ou pessoas muito próximas à  criança ou adolescente. Afugentados por ameaças e por sentimentos que lhe são  incutidos, como culpa e vergonha, as vítimas muitas vezes ficam sem ajuda, sem  saída e, assim, as situações de abuso vão se perpetuando por anos e anos… Nossa  campanha alerta sobre a importância da população compreender que este é um  problema NOSSO, que todo cidadão tem um papel nesse enfrentamento. O novo site  institucional da Childhood Brasil propõe-se a dialogar com diferentes públicos,  informando-os sobre COMO AGIR.
Ainda há muitos mitos propagados sobre  abuso e exploração sexual infantojuvenil? Quais são os principais?Os mitos são muitos,  porque o tema ainda é um tabu, difícil de ser falado! Um dos principais é o da  pedofilia, que repetidamente é comunicada como se fosse um crime, enquanto, na  verdade, é uma doença. Muitos abusadores e exploradores sexuais não são pedófilos.  Muitos pedófilos buscam tratamento para sua compulsão e nem chegam a cometer  abusos. O crime não é a pedofilia, mas o abuso e a exploração em si! Convidamos  a todos a conhecer Orientações de Comunicação sobre  violência sexual contra crianças e adolescentes no website da  Childhood Brasil, contribuindo para uma abordagem mais qualificada sobre o tema  e evitando a revitimização.
VIA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
 




 
 



 

Nenhum comentário:
Postar um comentário