quinta-feira, 7 de abril de 2011

“Ainda há um longo caminho a ser percorrido no enfrentamento da violência sexual infantojuvenil”

Segundo a coordenadora de programas da Childhood Brasil, Anna Flora Werneck, mesmo depois de duas décadas da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda há um longo caminho a percorrer para acabar com o abuso e a exploração infantojuvenil no País, porque ainda predominam muitos mitos e tabus.
Como começou o seu interesse pela causa do combate ao abuso e à exploração sexual infantojuvenil?Eu trabalhava com questões relativas aos direitos humanos há 10 anos, quando me mudei para São Paulo e tive a oportunidade de ingressar na Childhood Brasil. Pela primeira vez, recebi o desafio de coordenar programas estratégicos e apoiar projetos de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. No começo, é difícil não se envolver com as histórias duras e tristes das mais distintas violações de direitos humanos que culminam na violência sexual. A indignação faz a gente começar a perceber a importância desse trabalho, de falar constantemente e de diferentes formas sobre o assunto, de não deixá-lo cair no esquecimento ou debaixo do tapete do tabu e da vergonha. Enfrentar a violência sexual infantojuvenil pressupõe olhar a criança na perspectiva da proteção integral e envolver diversos atores para evitar essa violação e também tirá-la dessa rede perversa.
Após 20 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), qual é o cenário hoje da violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil?O cenário ainda é muito alarmante, pois milhares de crianças e adolescentes são vítimas da exploração sexual a cada ano e os profissionais que atendem a estes casos muitas vezes não estão capacitados para tanto. Por outro lado, a situação é mais favorável do que há 20 anos, quando crianças e adolescentes ficavam na penumbra, sem direitos instituídos e sem nenhuma voz. Por meio do ECA e de outros instrumentos legais, o movimento de direitos humanos pela infância vem alcançando melhorias significativas inclusive termos de defesa e responsabilização. O caminho ainda é longo até que o Estatuto saia efetivamente do papel, mas hoje temos um marco e um horizonte que não tínhamos há duas décadas. A violência sexual causa danos muitas vezes irreversíveis à integridade física, moral e psicológica de crianças e adolescentes, afetando o desenvolvimento humano e social de nosso País. Ecoa nas organizações e na mídia o consenso de que esta prática, além de criminosa, é uma gravíssima violação dos direitos da infância, devendo ser enfrentada de forma imediata, integrada e contínua.
Quais são hoje os locais mais problemáticos no que diz respeito à exploração sexual infantojuvenil? Cite alguns dos projetos realizados pela Childhood Brasil no enfrentamento deste fenômeno.A exploração sexual manifesta-se em diferentes localidades e em cada uma delas é importante observar as variáveis e os atores que podem ajudar no enfrentamento dessa grave violação de direitos. A Childhood Brasil possui diferentes iniciativas no tema, a exemplo da parceria com a rede Atlantica Hotels International, que, entre outras ações, implantou um Código de Conduta e capacita continuamente seus colaboradores para a prevenção do problema em seus mais de 70 empreendimentos hoteleiros.
Outro exemplo é o Programa Na Mão Certa, que mobiliza o setor privado para o enfrentamento da exploração infantojuvenil nas rodovias brasileiras. As empresas aderem ao Pacto Empresarial do Programa e capacitam os caminhoneiros de sua frota própria ou terceirizada como agentes de proteção de crianças e adolescentes nas estradas, além de abolirem qualquer violação de direitos da infância em suas cadeias produtivas.
A campanha VIRALIZE, realizada pela Childhood Brasil, pretende informar a sociedade como primeiro passo para se trabalhar a questão do abuso sexual na sociedade. Qual é o papel de educadores, profissionais de saúde e outros atores neste processo, inclusive cidadão comum?A campanha VIRALIZE se propõe a levantar a questão do abuso sexual de crianças e adolescentes na sociedade, provendo-a com informações de qualidade sobre o tema e o devido encaminhamento dos casos. Ao contrário do que muitos ainda podem pensar, este problema acontece em todas as classes sociais e de forma mais próxima do que imaginamos. Os abusadores são, na maioria das vezes, familiares ou pessoas muito próximas à criança ou adolescente. Afugentados por ameaças e por sentimentos que lhe são incutidos, como culpa e vergonha, as vítimas muitas vezes ficam sem ajuda, sem saída e, assim, as situações de abuso vão se perpetuando por anos e anos… Nossa campanha alerta sobre a importância da população compreender que este é um problema NOSSO, que todo cidadão tem um papel nesse enfrentamento. O novo site institucional da Childhood Brasil propõe-se a dialogar com diferentes públicos, informando-os sobre COMO AGIR.
Ainda há muitos mitos propagados sobre abuso e exploração sexual infantojuvenil? Quais são os principais?Os mitos são muitos, porque o tema ainda é um tabu, difícil de ser falado! Um dos principais é o da pedofilia, que repetidamente é comunicada como se fosse um crime, enquanto, na verdade, é uma doença. Muitos abusadores e exploradores sexuais não são pedófilos. Muitos pedófilos buscam tratamento para sua compulsão e nem chegam a cometer abusos. O crime não é a pedofilia, mas o abuso e a exploração em si! Convidamos a todos a conhecer Orientações de Comunicação sobre violência sexual contra crianças e adolescentes no website da Childhood Brasil, contribuindo para uma abordagem mais qualificada sobre o tema e evitando a revitimização.

VIA

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