Quando enfrentamos um problema e não temos ninguém para dividir nossas incertezas, o problema assume proporções irreais
Ernest Hemingway foi um dos maiores escritores do séc XX. Dentre suas obras monumentais, “Por quem os sinos dobram” tem seu lugar garantido na literatura mundial. Virou peça de teatro, filme com Ingrid Bergman e foi o livro de cabeceira de toda uma geração pós-guerra.
Ironicamente, a passagem mais conhecida do livro não é de Hemingway. O famoso parágrafo de abertura é de John Donne, escrito algumas décadas antes: “Nenhum homem é uma ilha. A Europa é um continente. Quando algum torrão de terra se desprende, a Europa fica menor. Do mesmo modo, quando algum homem morre, me sinto diminuído, porque faço parte do continente da raça humana. (…) Por isso, não me pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por você.”
Esse trecho sempre me vem à memória quando converso com dirigentes de empresas e ouço deles um desabafo recorrente: a solidão do poder.
Não importa se ele tem dezenas, centenas ou milhares de pessoas sob o seu comando. Muitas vezes ele se vê só em suas decisões, com o peso do mundo sob suas costas, como um Atlas mitológico de gravata.
E, como todos sabemos, quando enfrentamos um problema e não temos ninguém para dividir nossas incertezas, o problema assume proporções irreais, assim como a sombra de um objeto que se agiganta na parede quando o aproximamos de um foco de luz.
Por que essa solidão ocorre com tanta freqüência? Na minha opinião é porque, internamente, esse dirigente não consegue ouvir opiniões isentas. Quando reúne a diretoria ou uma equipe para discutir questões agudas, encontra, geralmente, advogados em causa própria. Afinal, para eles, mais importante do que confrontar idéias é não correr o risco de perder influência e prestígio.
Então, o problema reside na diretoria ou no staff? Absolutamente em nenhum dos dois. A origem está na maneira como as estruturas hierárquicas são construídas. O problema está no sistema e não nas pessoas. Afinal, bajular é uma instituição culturalmente aceita e politicamente tolerada por muitos que chegam ao poder.
O sistema não ajuda a equipe a ter uma visão do todo, a se sentir parte integrante do continente, a ter consciência do seu papel e da sua importância na estrutura. Todos se sentem torrões de terra dispensáveis, que a qualquer momento podem ser desprendidos. Por isso, se agarram fortemente aos seus cargos no primeiro tremor de terra de uma reunião com a direção da empresa.
O conselho que sempre dou a esse dirigente é que estimule as opiniões e promova o confronto saudável de idéias. É bem provável que você esteja comandando um grupo vencedor que só precisa de espaço para se expressar, sem medo. Para que você também possa cobrar resultados de forma mais eficiente.
Lembre-se que o líder não é aquele que dá ordens, mas aquele que desperta iniciativas e forma outros líderes.
O que estou propondo não é fácil. É um processo que exige desprendimento, porque vai expor as falhas da estrutura e talvez, dos próprios dirigentes.
Mas vale a pena.
Faça isso e as sombras do medo e da insegurança desaparecerão.
Denis Mello
Ironicamente, a passagem mais conhecida do livro não é de Hemingway. O famoso parágrafo de abertura é de John Donne, escrito algumas décadas antes: “Nenhum homem é uma ilha. A Europa é um continente. Quando algum torrão de terra se desprende, a Europa fica menor. Do mesmo modo, quando algum homem morre, me sinto diminuído, porque faço parte do continente da raça humana. (…) Por isso, não me pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por você.”
Esse trecho sempre me vem à memória quando converso com dirigentes de empresas e ouço deles um desabafo recorrente: a solidão do poder.
Não importa se ele tem dezenas, centenas ou milhares de pessoas sob o seu comando. Muitas vezes ele se vê só em suas decisões, com o peso do mundo sob suas costas, como um Atlas mitológico de gravata.
E, como todos sabemos, quando enfrentamos um problema e não temos ninguém para dividir nossas incertezas, o problema assume proporções irreais, assim como a sombra de um objeto que se agiganta na parede quando o aproximamos de um foco de luz.
Por que essa solidão ocorre com tanta freqüência? Na minha opinião é porque, internamente, esse dirigente não consegue ouvir opiniões isentas. Quando reúne a diretoria ou uma equipe para discutir questões agudas, encontra, geralmente, advogados em causa própria. Afinal, para eles, mais importante do que confrontar idéias é não correr o risco de perder influência e prestígio.
Então, o problema reside na diretoria ou no staff? Absolutamente em nenhum dos dois. A origem está na maneira como as estruturas hierárquicas são construídas. O problema está no sistema e não nas pessoas. Afinal, bajular é uma instituição culturalmente aceita e politicamente tolerada por muitos que chegam ao poder.
O sistema não ajuda a equipe a ter uma visão do todo, a se sentir parte integrante do continente, a ter consciência do seu papel e da sua importância na estrutura. Todos se sentem torrões de terra dispensáveis, que a qualquer momento podem ser desprendidos. Por isso, se agarram fortemente aos seus cargos no primeiro tremor de terra de uma reunião com a direção da empresa.
O conselho que sempre dou a esse dirigente é que estimule as opiniões e promova o confronto saudável de idéias. É bem provável que você esteja comandando um grupo vencedor que só precisa de espaço para se expressar, sem medo. Para que você também possa cobrar resultados de forma mais eficiente.
Lembre-se que o líder não é aquele que dá ordens, mas aquele que desperta iniciativas e forma outros líderes.
O que estou propondo não é fácil. É um processo que exige desprendimento, porque vai expor as falhas da estrutura e talvez, dos próprios dirigentes.
Mas vale a pena.
Faça isso e as sombras do medo e da insegurança desaparecerão.
Denis Mello
Nenhum comentário:
Postar um comentário