Arca de Jacó
Há alguns anos atrás, ouvi uma parábola sobre a primeira tentativa de construção da arca, aquela que na segunda tentativa veio se chamar Arca de Noé. Segundo a parábola, na primeira tentativa, Deus chamou um homem chamado Jacó para aquele grande de desafio. Jacó, então, constratou uma empresa de consultoria em construção de embarcações marítimas. O custo era alto, mas diante do tamanho do empreendimento, valia a pena. A primeira orientação que Jacó recebeu foi que teria que (1) abrir uma empresa de construção de embarcações para ter um PNPJ, visto que teria que contratar muita gente para o projeto, (2) solicitar ao Ministério do Meio Ambiente autorização para a derrubada de uma razoável quantidade de árvores, (3) encomendar um estudo detalhado sobre todos os cuidados necessários com cada grupo de animais (4) também precisaria entrar com a solicitação de construção da arca em seu jardim junto a prefeitura local, respeitando a lei de zoneamento da região.
Para acompanhar o processo de abertura da firma, Jacó contratou os serviços de um contador e um advogado. Enquanto o primeiro se tornou o gerente do departamento de contabilidade da Jacó Embarcações, o segundo o gerente do departamento jurídico da mesma empresa. Por uma questão de contenção de custos, o contador também assumiu a gerência do RH, iniciando o processo de recebimento de inúmeros curriculos de trabalhadores na área de carpintaria, construção civil e previsão meteriológica.
Para a solicitação junto ao Ministério do Meio Ambiente, Jacó contratou um engenheiro agronomo para elaboração de um estudo no qual apresentaria o tipo de árvore que seria retirada, as provas de que o impacto ambiental seria tolerável e o compromisso de reflorestamento da área. Para a manutenção deste engenheiro e dos custos operacionais de seu trabalho, a Jacó Embarcações montou uma outra empresa de prestação de serviços, Jacó Ecologia e Preservação Ambiental, e, através de uma licitação, passou a prestar serviços ao governo na área de mapeamento das espécies de árvore na região.
Para o estudo relativo ao cuidado com os animais, Jacó contratou um veterinário, um zootecnista, um biológo e um nutricionista. Juntos formaram o departamento de desenvolvimento de pesquisas animais. Para sustentar estes profissionais e as pesquisas que realizavam, Jacó teve a fantástica idéia de lançar uma revista mensal chamada: Jacó Animal. Seria uma revista destinada ao pequeno produtor rural danto dicas práticas para seu trabalho. Através do dinheiro arrecadado com a revista, este departamento poderia ser mantido.
Para a aprovação da construção da arca no quintal de sua casa, Jocó teve que quebrar um pouquinho mais a cabeça. Primeriamente, porque descobriu que a lei de zoneamento não permitia a contrução de arcas naquela região. Segundo, mesmo que fosse permitido, o custo de IPTU se elevaria sensivelmente com a presenta de uma arca no seu jardim. No entanto, antes que se desesperasse, Jacó foi apresentado a um pessoal especialista em lobby junto aos processos e decisões políticas. Custaria caro, mas garantiam que seria uma questão de meses para que a lei de zoneamento fosse alterada por lei da camara de vereadores e o custo do imposto fosse anistiado.
Jacó então passou a organizar sua agenda da seguinte maneira. Todas as segundas-feiras, reunia-se com seus gerentes do departamento de contabilidade, asssuntos jurídicos e RH para avaliar os processos em andamentos e tomar as medidas necessárias. Todas as terças-feiras, era a vez de acompanhar o andamento dos estudos para a aprovação do Ministério do Meio Ambiente e dos projetos da Jacó Ecologia e Preservação Ambiental. A cada dia surgiam novas prefeituras e organizações interessadas em seu trabalho. A empresa já tinha mais de 30 profissionais trabalhando em rítmo acelerado para tantas solicitações.
Na quarta-feira era a vez de acompanhar e avaliar os progressos do Departamento de Pesquisa Animal e da Revista Jacó Animal. Neste caso, a Revista estava indo tão bem e tendo uma aceitação tão boa que os profissionais responsáveis pelo departamento entenderam que não poderiam perder aquela oportunidade e que, o tempo não dedicado a pesquisa diretamente relacionada aos animais da arca, seria amplamento compensado com os lucros gerados pela revista. Por sinal, eles já estavam pensando num novo projeto, destinado ao crescente mercado dos animais de estimação. A nova revista se chamaria Jacó Pet.
Na quinta feira, era dia do Jacó viajar para a Brasilia da Mesopotâmia, onde os deputados e senadores “trabalhavam” de terça a quinta. Ali sua agenda era intensa. Café da manhã com deputados da comissão de zoneamento urbano, almoço com senadores responsaveis pela criação da nova lei sobre propriedade urbana, no fim da tarde happy hour com o ministro das cidades mesopotâmicas e, não poucas vezes, Jacó tinha ainda que encaixar e patrocinar um jantar para políticos e esposas em algum dos restaurantes mais chiques da região, só pra demonstrar sua boa vontade para com todos.
NA sexta-feira? Na sexta-feira Jacó viajava na parte da manhã para sua cidade e, se o caos aéreo permitisse, por volta do meio dia já estava em casa para um lanche rápido. Em seguida, dava um pulo até seu quintal para fazer algum servicinho relacionado a Arca. Carpia um pouco o local do projeto, juntava algumas madeiras que já se encontravam no local e organizava as ferramentas que seriam um dia utilizadas pelos seus operários.
Foi assim que Deus decidiu partir para o plano "B", Noé.
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