terça-feira, 29 de março de 2011

Católicos Indignados com Ação Evangélica em Romaria


Convenção Batista vai trazer Projeto Tenda da Esperança, que evangeliza em eventos de devoção à Maria



foto: Gabriel Lordêllo
Pastor Oliveira de Araújo, falando na 1ª Igreja Batista de Vitória depois de passar por um transplante de pulmão - Editoria: Política - Foto: Gabriel Lordêllo

"O objetivo é levar uma mensagem de esperança. Todos ali são livres. Ninguém vai tentar mudar a cabeça de ninguém"Oliveira de Araújo, pastor da Primeira Igreja Batista de Vitória


A iniciativa da Convenção Batista do Estado de trazer o projeto Tenda da Esperança para a próxima edição da Festa da Penha, no dia 2 de maio, vem causando indignação entre católicos, especialmente aqueles responsáveis pela organização do tradicional evento mariano. A ação batista tem como uma de suas finalidades a evangelização durante romarias católicas.

Responsável pelas romarias das Mulheres e das Mães ao Convento da Penha, Maria José Tabachi destaca que é preciso, acima de tudo, respeitar o credo do outro. "Fico triste ao ver que, em pleno século XXI, ainda há ataques religiosos. Parece que ainda não cresceram na fé. Quem está na Festa da Penha é porque acredita, não está sendo obrigado a isso", desabafa.

Maria José acrescenta que nunca houve por parte dos católicos a iniciativa de fazer mobilizações durante eventos evangélicos, como o Jesus Vida Verão, também realizado anualmente em Vila Velha.

Há 24 anos responsável por arrumar e proteger o andor e a imagem da Virgem da Penha durante a festa no Convento, Antônio Francisco Saiter compartilha da mesma opinião. "Esse é um evento mariano, que cultua a imagem da mãe de Jesus. Isso eles não fazem. A presença dos evangélicos ali, portanto, é falta de respeito." 



foto: Helô Sant'Ana
Antônio Francisco Saiter, 51 anois, industrial, vai leiloar a imagem que arrematou em leilão, na procissão dos homens - Editoria: Cidade - Foto: Helô Sant'Ana


"É falta de respeito. Todos sabem que a Igreja Batista não cultua Maria. Indo lá, eles estarão contra o que estamos pregando"Antônio Saiter, que prepara o andor para a imagem da padroeira




Do outro lado, o pastor da Primeira Igreja Batista de Vitória, Oliveira de Araújo, observa que o objetivo da tenda é oferecer mais um caminho para levar mensagem de esperança às pessoas. "Todos são livres para ouvir a receber a mensagem que for. Pelo que entendi, não haverá confronto com as romarias."

A representante da Tenda da Esperança no Estado, Fabíola Molulo, acalma a discussão, apontando que, na verdade, o grande foco da iniciativa são os projetos sociais que serão oferecidos no bairro Ilha dos Ayres, Vila Velha, onde há a previsão de se erguer uma igreja batista.
O projeto De acordo com material divulgado no site da Convenção Batista, as abordagens previstas serão feitas com entrega de água e folhetos evangelísticos, teatro de rua e evangelização pessoal. O objetivo é fazer 10 mil abordagens e alcançar mil pessoas, das quais 300 devem ser crianças. Para isso serão recrutados 300 voluntários.

Desde a sua criação, em 1991, a Tenda da Esperança tem servido para alcançar o maior número fiéis, principalmente romeiros. "O projeto tem como desafio encaminhar essas pessoas a uma igreja batista para serem acompanhadas em sua nova vida", afirma o site do movimento Missões Nacionais. Para cumprir esse objetivo, a tenda é executada onde há grandes romarias, como Belém (PA), Juazeiro do Norte (CE) e Aparecida (SP).
Arquidiocese vai se posicionar nos próximos dias

Alegando não ter conhecimento detalhado sobre a iniciativa da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, a Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo (Aves) informou ontem que não iria se manifestar sobre a possibilidade da implantação do projeto Tenda da Esperança, que pretende evangelizar os romeiros durante a Festa da Penha. A assessoria de comunicação da arquidiocese afirmou que, nos próximos dias, deve se pronunciar sobre o assunto.
Análise 

"Afronta à liberdade" 

Vitor Nunes Rosa
Teólogo e professor de Filosofia
Uma denominação evangélica aproveitar a festa religiosa católica de Nossa Senhora da Penha para promover uma "campanha de evangelização" tem três aspectos fundamentais: primeiro, evidencia fragilidade dos promotores de tal empreendimento, pois estão aproveitando a extraordinária capacidade de mobilização da Igreja Católica; segundo, é uma atitude deselegante, que contraria os princípios cristãos do respeito ao próximo. Ora, a Igreja Católica está evangelizando, e a realização de algo com o intuito de retirar pessoas desse processo transcende as finalidades do anúncio do Evangelho, constituindo mais uma investida contra uma instituição religiosa e suas crenças do que uma ação cristã. Sugiro que tais forças sejam canalizadas em favor de pessoas sob o domínio das drogas, da prostituição e outras situações que afrontam a dignidade. Terceiro, destaco que há a questão constitucional que garante a liberdade de culto e a convivência pacífica entre os segmentos religiosos. Inserir-se no movimento da Festa da Penha dessa forma constitui manifesta afronta à liberdade de crença e de culto, além de caracterizar uma "guerra por fiéis", algo totalmente indesejado no Estado Democrático de Direito e no contexto de busca da unidade dos cristãos.





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