sexta-feira, 4 de março de 2011

Tesouro No Céu? Vai Sonhando...

Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. (Mt 6.19-20, NVI)


De novo o velho exemplo: ouvi um pregador dizer que iria “ensinar o segredo para tirar os tesouros do céu e desfrutarmos deles aqui na terra”. Como Jesus ensinou o contrário, temos um típico caso de pregação antibíblica, anticristã, e isso em uma igreja evangélica.

Mas em qual tesouro Jesus está pensando quando fez esse anúncio? Será que Jesus acumula alguma espécie de riqueza transferida daqui para lá?

Definitivamente, não. Recorrendo ao velho – e bom – mandamento da interpretação, o contexto, o quê vemos aqui?

No contexto imediato, Jesus acabara de ensinar a oração do Pai Nosso. Esta oração é encerrada com o ensino sobre perdão (“perdoa-nos assim como perdoamos”, v.12) e a soberania divina do Reino (“teu é o Reino”, v.13).

Depois da oração, Jesus fala sobre o jejum: os judeus, com sua falsa espiritualidade (a que Jesus chama de hipocrisia, v. 16), acordavam e nem se arrumavam, permaneciam despenteados, semblante abatido, não se lavavam e saiam às ruas assim, para mostrar que estavam em jejum. Dentro do contexto temos, então, a oração e o jejum, ambos elementos de natureza devocional, espiritual, seja dentro do cristianismo como em qualquer outra orientação religiosa. Nada temos aqui com relação a riquezas e bens materiais.

A chave para entender a natureza do “tesouro” do versículo 19 está aqui, no texto do v. 18 sobre jejum: “Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará” [algumas versões acrescentam “publicamente”].

O jejum é uma prática milenar que visa à humilhação da alma perante Deus, com finalidade de aproximação do homem ao Senhor. Um dos meus versículos favoritos sobre o jejum diz: “humilhei-me com jejum e recolhi-me em oração” (Sl 35.13). Davi diz que quando seus inimigos o afrontavam, ele buscava em Deus, com oração e jejum, o julgamento de seus inimigos. As ferramentas da oração e do jejum sempre são usadas conjuntamente.

Assim, que recompensa Jesus tem em mente quando fala que haverá tesouros – no caso, para quem ora e jejua? Certamente o contexto remete os pensamentos à santidade, às virtudes que o cristão pode alcançar em sua aproximação do Senhor, por meio da oração e do jejum. É inadmissível a tentativa de ler este texto com as lentes da bolsa de valores. Não, não são os tesouros monetários que Jesus tem em mente. Apenas quando ele for falar sobre a “ansiedade” (a partir do v. 24), é que haverá oportunidade para mencionar os recursos materiais para o sustento das necessidades básicas – e mesmo assim o contexto será a ansiedade e as preocupações da vida!

Dessa forma, desmancha-se a pretensa hermenêutica da prosperidade sobre este texto no Sermão do Monte. As virtudes cristãs são o foco aqui. Jesus faz alusão a elas quando aconselha e orienta-nos a juntar algo diante de Deus, no céu. E alguém conseguiu e ousou pensar em riquezas materiais num ambiente nitidamente espiritual. Nada entendeu dos princípios da fé.

Por @magnopaganelli
http://neoprotestante.blogspot.com/

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